Nós sabemos muito bem que ter um diagnóstico impacta de muitas formas na vida, não só sua, mas de pessoas aos seu redor. São decisões, insumos, gerenciar o “mini” estoque, pensar na alimentação, na nova rotina de cuidados, no bolso, entender cada número e de onde ele vem.

Entendendo seus momentos.

É normal, num determinado momento, mergulhar no “mundo do diabetes”, para entender os cuidados necessários. Como é uma condição crônica, de tempos em tempos, conversamos com as pessoas da família e amigos que confiamos. Com a nossa equipe de saúde e nos educamos para entender os movimentos necessários para os nossos cuidados diários. 

Uma parte que por muitos anos foi negligenciada do tratamento é a parte do nosso sentimento, que podemos eventualmente chamar de “psicológica”, embora nada dentro da gente se separe, somos uma coisa só e tudo se conecta. 

Em alguns momentos, a necessidade de cuidar do diabetes no sujeito pode se sobrepor ao fato de que existe um sujeito ali, que precisa cuidar do diabetes, mas isso é apenas uma parte de quem ele é. 

Necessidades reais.

A necessidade de medir, de contar carboidratos, tomar a medicação, praticar exercício físico pode se sobrepor ao nosso sentimento, como nos sentimos mediante tantas necessidades que são implacáveis e temos “pouco espaço” para nos entendermos como o ser complexo e único que somos. 

Queremos dizer que no processo de lidar com o diagnóstico do diabetes, e é normal acontecer em outros momentos. Mesmo depois de anos de diagnóstico, pode ser que algumas partes importantes de quem você é tenha ficado suprimidas pela necessidade mais emergencial de lidar com o diabetes de uma maneira geral. 

E tudo bem. Mas entendemos que é sempre bom podermos falar sobre as questões e hoje é sobre esta que iremos tratar. Lembramos que pode ajudar muito ter a ajuda de um profissional de saúde mental para te auxiliar nesse caminho de autoconhecimento, descobertas, de poder falar o que outrora não “pôde sair”. 

Topa filosofar um pouco com a gente?

“Ser ou não ser, eis a questão”

Essa famosa frase é dita pelo personagem Hamlet durante a peça que leva o mesmo nome do personagem, escrita por de William Shakespeare. 

Essa frase teve interpretações distintas, sendo lida de formas diferentes pela sociedade de cada época. E quem somos nós para colocar um ponto final dela? 🙂 

Mas vamos brincar com uma interpretação possível dessa frase (valeu Shakespeare!) e deixar algumas questões que nos perguntamos de tempos em tempos.

“Ser o diagnóstico do diabetes ou não ser?”

  • Ser diabético ou ter diabetes? 
  • A doença me define? 
  • Ter diabetes me limita?  
  • O que representa pra você, e só pra você, o fato de ter diabetes? 
  • Quais são os seus desejos? 
  • O que você sente que faz você ser quem você é? 
  • O que é existir?

Não existe certo e errado, tudo é um processo. Um aprendizado que cada pessoa vai construindo sua vida à sua maneira. 

Recordar, repetir e elaborar.

Existe um ser humano com mil qualidades que vai muito além de um diagnóstico. Talvez você goste de escrever, de criar, de fazer contas, de conversar com gente. Cada um tem o seu valor e o mundo precisa de todos. Mergulhar fundo e viver somente por um diagnóstico, por vezes, pode ser sufocante e talvez faça nós nos afastarmos de nós mesmos. Talvez algum dia deixamos de ir em algum lugar com comidas gostosas porque aprendemos um grande equívoco: “Você não pode comer isso.” E nos afastamos de convívio social para nos poupar desses comentários.

Outro dia deixamos de falar sobre o que estamos realmente sentindo, pois algum dia ouvimos o grande equívoco: “Você precisa ser forte, tem gente em situação pior que você.” Você tem direito de sentir o que sente, seja qual for a dor. E procurar ajuda para lidar com a sua dor não é fraqueza, é normal. Pode ajudar a encontrar a resposta para as questões que deixamos acima.

Frases-equívoco.

Talvez você tenha absorvido algumas frases comumente ditas equivocadamente, como por exemplo: 

  1. “Isso está acontecendo porque é culpa sua”. Existem razões sim, mas, definitivamente, a culpa não é sua e nem de ninguém. 
  2. “É só tomar o medicamento, tem coisa mais simples que isso?” Sabemos que não é tão simples assim em algumas ocasiões.  E vai além de tomar medicamentos, existe um controle. 
  3. “É só tomar o chá “x”, “y” ou “z” que sua vida está resolvida”. Entendemos a complexidade que seja ouvir esse tipo de comentário, principalmente quando no outro dia você acordar e encontrar tudo exatamente como estava.

Mas nada nessa vida é perfeito (nada, nada mesmo). Tudo o que vivemos é importante e foi o que nos construiu até aqui. 

Somos uma parte de tudo o que aconteceu ou foi feito com a gente. Mas não é isso que nos define. O que nós fazemos do que aconteceu e do que foi feito com a gente é o que vai nos dar pistas de quem somos. 🙂

E terminamos com essa sensação de que a vida acontece no movimento. Da fluidez de tudo que foi possível. Do olhar para as dinâmicas e repetições. Na alegria da descoberta que estamos prestes a fazer de nós mesmos. No reconhecimento do que já conhecemos.  No caminho da construção e elaboração de todas essas percepções que a cada dia vão nos ajudando a falar sobre nós mesmos.

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